MESTRE ZÉ DA VIOLA – SÃO JOSÉ DOS CAMPOS SP
20 de julho de 2022José Soares da Silva (Zé da Viola) nasceu em São José dos Campos, na região em que hoje está a Urbanova, no ano de 1938. O pai do seu Zé era “piraquara”, profissional com carteira de pescador. Seu Zé e sua mãe dedicavam-se à lavoura. Desde pequeno seu Zé via Folias de Reis, Catiras e Danças de São Gonçalo, nas quais o seu pai tocava.
Com 8 anos seu Zé já começou a tocar viola e teria aprendido sozinho, assim como seu pai. Diz ele que tocavam numa viola “pititica, de 12 traste”, feita na “roça”. Segundo seu Zé, as violas eram feitas de cedro serrado no traçador, aplainadas e depois cavadas com canivete. A madeira era encontrada no local mesmo. As cravelhas eram todas de madeira, não usavem pregos e a cola para unir partes era cola de peixe. “Só que num ficava uma coisa bunita, né? Mai dava são, dava são… As corda num tinha esses cordoamento, agor que tem… durinha… tinha um carretézinho assim de corda branca, i oto di corda amarela… daí a gente midia alí, ia cortano, marrano…” As cordas eram compradas em casas de ferragens ou de material de pesca, pois não existiam lojas de intrumentos em São José dos Campos, naquela época. As violas não eram pintadas, ficavam “na cor da madeira memo”.
Perguntei onde estaria esta viola hoje, seu Zé disse que alguém de algum museu levou embora.
Com 14 anos, seu Zé formou uma dupla com o irmão Edgar (eles eram em 5 irmãos). A dupla era convidada para animar festas, mas só podiam ir com autorização do pai do seu Zé. As musicas que a dupla tocava, eram as que conheciam desde pequenos, tendo acompanhado o pai e também o que ouviam num grande radio de pilha (citou Alvarenga e Ranchinho, Tonico e Tinoco e Vieira e Vierinha) Quando seu Zé estava com 16 anos, a terra onde moravam foi vendida, segundo seu Zé, por influência de um irmão que morava em São Paulo e fez a cabeça do pai. Mudou-se, então, a familia toda para a Vila Sinhá. Na cidade, seu Zé aprendeu o nome das notas que ele já fazia antes de ouvido. Já na cidade, a dupla começou a compor algumas musicas… “dessas musica de agora… cururú… querumana, sabe?”
Seu Zé aprendeu os nomes dos ritmos que tocava ao comprar os livrinhos de Tonico e Tinoco que eram vendidos nas bancas de jornais. Quando seu Zé veio para morar “na cidade”, depois de vendida a roça do pai, ele foi trabalhar em uma olaria como forneiro, montando os arcos de tijolos para queimar (Zico Lima, na Vila Pinheiro). Depois foi para a fábrica de beneficiar arroz, onde trabalhou de servente de pedreiro, num tempo onde se amarrava parede com arame farpado “naquele tempo quase não tinha ferro”. Depois dessa fábrica, ficou 22 anos como pedreiro, numa firma que prestava serviços para a Rodhia. Ainda hoje trabalha de pedreiro, mas só para os filhos, pois “as cadera não aguenta mais”.