TABATINGA – O MUTIRÃO

Este vídeo é o registro de um mutirão organizado para rebocar com tabatinga as paredes internas de um rancho de pau a pique que abriga uma fornalha e um fogão de tacho, no Bairro do Serrano em São Bento do Sapucaí SP.

Rosana Barros, a proprietária do Engenho Velho, local onde aconteceu o evento, querendo aprender a tradicional técnica de reboco natural, convidou amigos e principalmente amigas que já tiveram vivência de tabatinga em algum momento de suas vidas. Juntos foram todos coletar o barro branco em um local próximo, nas terras do sr Joaquim Santana, o mesmo local que no passado abastecia de tabatinga os moradores da região.

Há anos não se coletava mais barro no local, que hoje virou pasto e está coberto por bracchiaria. O único vestígio do barro branco é a cor da terra clara que as formigas trazem do subsolo para a superfície. Foi preciso cavar mais de metro e meio para encontrar o barro branco, que clareia quanto mais fundo está na terra.

O barro foi levado ao local que ia ser utilizado, misturado com água e espalhado nas paredes com trapos de pano. Era evidente a alegria das pessoas que ali trabalhando, tanto por poder ajudar um amigo quanto por reviver uma tradição. Contaram histórias do uso do barro branco não somente para reboco e acabamento mas também como lazer das crianças e seu poder de cura quando aplicado em partes doloridas e feridas do corpo.

Como é tradição em mutirões, o dono da casa oferece comida e bebida. Foi assado na fornalha do rancho, um biscoito de polvilho com farinha de milho e banha de porco, receita de dona Josefina (92) que esteve presente e acompanhou de perto a feitura da massa e o assar dos biscoitos.

Prontos, os biscoitos foram servidos acompanhados de um gostoso café de produção local (Engenho Velho) que todos puderam degustar ao som da harmoniosa dupla Vital e Rosana, que brindou os presentes modas antigas e novas.

Para muitos foi um momento de nostalgia, ao lembrar do tempo em que viveram em casas de taipa e pau a pique. Para as crianças foi a oportunidade de aprender, sob a forma de brincadeira, uma tradição que praticamente não existe mais na região.

Havia magia no ar, as pessoas radiavam felicidade. Houve uma pessoa que disse, sob intensa emoção, que foi o dia mais importante da vida dela. Eu, que acompanhei o processo desde o começo, sei que sou um privilegiado de poder compartilhar destes momentos únicos em que o antigo se faz novo e o ciclo se fecha, com os mais velhos cumprindo seu papel mais sublime que é o de servir de exemplo e poder dar do seu melhor aos mais novos.

Obrigado Criador. Peço que estes momentos mágicos se repitam aqui e acolá e que a solidariedade sobressaia à ganância, afim de que a humanidade se dê conta do pouco que é preciso para nos entendermos e sermos felizes neste planeta.